Anestesia para Cirurgia Cardíaca – Como deve ser o preparo?

Anestesia para Cirurgia Cardíaca – Como deve ser o preparo?

Por Dr. Waston Vieira Silva

Cirurgias cardíacas são procedimentos de grande porte e que exigem uma equipe multidisciplinar chamada Heart Team (Time Cardiológico), composta de diversos profissionais, entre eles, o médico anestesista. Os procedimentos mais comuns incluem as cirurgias nas artérias coronárias (revascularização do miocárdio), reparos ou trocas valvares, implantes de marcapasso ou cardiodesfibriladores, reparos de aneurismas e transplantes de coração. As cirurgias são realizadas sob anestesia geral, sendo utilizada combinação de medicações, que promovem a inconsciência, o controle da dor e permitem o relaxamento muscular. O anestesista administra e quantifica esses fármacos de acordo com o tipo de cirurgia, com as necessidades individuais de cada paciente, e permanece junto a esse durante toda a intervenção cirúrgica, mantendo-o seguro e confortável, possibilitando a estabilidade necessária ao trabalho da equipe cirúrgica. Nas cirurgias eletivas (agendadas), para que toda essa segurança seja possível, os cuidados devem chegar aos mínimos detalhes.

Se você está se preparando para a realização de uma cirurgia cardíaca, há alguns passos importantes que pode tomar para ajudar a garantir o melhor resultado possível. É fundamental que o paciente converse com o médico anestesista antes de se submeter a qualquer anestesia. Essa conversa poderá ser realizada durante a consulta pré-anestésica, preferencialmente em consultório, mas que poderá ocorrer no hospital assim que o paciente for internado. O anestesista examinará o paciente, esclarecerá suas dúvidas e prestará informações e orientações sobre a anestesia, pois existem muitas fantasias e informações incorretas que poderão ser esclarecidas, sendo o primeiro passo para uma anestesia segura. Com todas as informações a seu respeito, o anestesista e o cirurgião terão melhores condições de realizar sua cirurgia com sucesso. Durante essa avaliação, poderão ser solicitados outros exames e, a partir disso, tomar providências para que o paciente seja submetido à cirurgia com a maior segurança possível dentro do seu quadro de saúde. É com base nas informações colhidas nos exames e na avaliação pré-anestésica que o médico anestesista define a melhor conduta para cada pessoa. A proposta é reduzir ao máximo os riscos que podem ser: sangramento, infecção, reações anestésicas, lesões em alguns órgãos (coração, rins, fígado e pulmões), acidente vascular cerebral e óbito, especialmente naqueles que estão muito doentes antes da cirurgia. Os riscos são maiores se existem muitas doenças associadas.

Antes da internação para sua cirurgia cardíaca, é fundamental que você se prepare adequadamente. Quando a sua cirurgia for agendada, é muito importante que você siga algumas recomendações antes da internação:

  • Se você fuma, é importantíssimo a suspensão total do fumo pelo menos 30 dias antes da cirurgia cardíaca. O uso crônico do cigarro aumenta o risco de complicações durante e após a cirurgia, incluindo infecções de feridas, complicações pulmonares e trombose no pós-operatório imediato;
  • Não utilize nenhum medicamento não prescrito pelo seu médico. Se houver necessidade do uso de alguma medicação não prevista, consulte o seu médico;
  • Se você tiver algum problema dentário ou estiver realizando tratamento odontológico, é importante que você comunique ao seu médico antes da internação, principalmente se você for submetido a uma cirurgia de válvula;
  • Se houver alguma intercorrência, como dor no peito, falta de ar ou mal estar no período em que você está aguardando sua internação, sugerimos que procure seu cardiologista ou o Setor de Emergência do hospital. Na dúvida se o que você está sentindo é ou não relevante, vá ao hospital;
  • Infecções prévias: comunique ao médico, antes da cirurgia, se estiver com alguma infecção (furúnculo, foliculite, sinusite, dor de garganta, infecção urinária ou gripe, por exemplo). Nesses casos, se possível, é melhor postergar a cirurgia para evitar que haja risco de infecção pós-operatória.

Após as consultas, é importante que você organize todos os seus exames pré-operatórios (laboratoriais e/ou de imagem), pois deverão ser levados ao hospital no dia da internação.

No dia da cirurgia procure manter-se tranquilo, pois toda a equipe multidisciplinar está preparada para atendê-lo. Mesmo estando tudo em ordem para a sua cirurgia, existe a possibilidade de ser adiada para outra data ou horário, devido a cirurgias de emergência, falta de sangue do seu tipo no hospital, alterações de seus exames ou outros motivos de força maior. Se a sua cirurgia for adiada, não se preocupe, todos os profissionais estarão envolvidos para que o seu procedimento aconteça o mais breve possível, dentro de todos os preceitos de segurança.

No dia da cirurgia, a equipe de enfermagem irá lhe auxiliar a se preparar. Vários cuidados serão tomados para a prevenção de infecções. A tricotomia (raspagem dos pelos) é necessária para facilitar o ato cirúrgico e para evitar infecções. Ela será realizada pela enfermagem, antes da sua cirurgia, no seu quarto. As áreas a serem tricotomizadas (raspadas) dependem do tipo de cirurgia que você irá realizar. Após a tricotomia, será dado um banho com solução antisséptica degermante, e então estará pronto para vestir a roupa do hospital. É fundamental que você não use desodorante, perfume, cremes hidratantes ou qualquer outro produto após estes cuidados. Escove bem os dentes, faça gargarejo com antisséptico bucal. Se você tiver prótese dentária, retire-a e deixe com seu acompanhante. É importante também que você retire todos os tipos de maquiagem, esmalte das unhas, joias, relógios, lentes de contato, grampos de cabelo, perucas, apliques de cabelos, cílios postiços e outros adereços. Os homens devem se barbear. Se você possui déficit visual ou auditivo muito importante e é completamente dependente do uso de óculos ou de aparelho auditivo, solicite à equipe cirúrgica para que você possa utilizar o seu aparelho até a chegada à sala de cirurgia. Depois disso, você deverá retirar os óculos ou aparelho auditivo, que ficará guardado ou será entregue para o seu acompanhante.

Devo ficar em jejum? Sim, o jejum é sempre necessário!!!
Os alimentos que engolimos, líquidos ou sólidos, não entram na traqueia (via respiratória) porque dispomos de mecanismos de defesa que fecham a sua entrada, fazendo com que se dirijam ao estômago. Durante a anestesia, estes mecanismos de defesa são bloqueados e, na eventualidade de ocorrer regurgitação ou vômitos, o alimento poderá entrar nas vias respiratórias e provocar complicações pulmonares muito graves. Portanto, não coma e nem beba qualquer coisa antes de conversar com um membro da equipe cirúrgica. O jejum inclui alimentos sólidos e líquidos (inclusive água) por, no mínimo, 6 a 8 horas. O anestesista irá orientar a família de crianças que se alimentam de leite materno ou fórmula infantil, pois o tempo de jejum é diferente. Não mastigue goma de mascar antes da cirurgia, porque isto provoca aumento de ar e de sucos gástricos no estômago, que podem causar vômitos depois da cirurgia.

Você então será encaminhado ao Centro Cirúrgico, e os seus familiares poderão lhe acompanhar até a entrada. Lá chegando, você será levado à Sala de Cirurgia, onde a equipe estará lhe aguardando. Em geral, a duração das cirurgias cardíacas é superior a 4 horas. O tempo de cirurgia não representa fator de risco e é muito variável, pois depende do tipo de doença que será tratada, se é uma reoperação, e se existem outras doenças associadas, entre outros fatores.
Logo que entrar na sala cirúrgica, você será preparado para a cirurgia cardíaca. A equipe de enfermagem e o médico anestesista lhe acolherão e orientarão para que se mantenha tranquilo. O preparo se inicia com a colocação de adesivos para monitorização cardíaca. Em seguida, você receberá a anestesia geral através de uma veia que será puncionada no seu braço, procedimento que não causa dor. Além disso, será colocado um adesivo (sensor de monitorização) em sua testa para avaliar sua atividade cerebral e a profundidade da anestesia geral, guiando o anestesista para que ele possa calcular e titular a quantidade de anestésicos para cada paciente. O médico anestesista permanece durante toda a cirurgia ao lado do paciente, monitorando de perto os seus sinais vitais e administrando de forma contínua as substâncias anestésicas. Hoje, durante a cirurgia cardíaca, é possível analisar, em tempo real, diversas informações do paciente através dos inúmeros monitores utilizados. Com o auxílio do aparelho de ecocardiografia transesofágica, podemos observar todo o funcionamento do coração e identificar previamente qualquer intercorrência. Os anestesistas são bem preparados para as cirurgias de grande complexidade, proporcionando segurança ao paciente e tranquilidade à equipe cirúrgica.

Enquanto você está sendo submetido à cirurgia, seus familiares poderão permanecer na sala de espera da UTI (Unidade de Terapia Intensiva), e assim que sua cirurgia terminar, serão avisados e um membro da equipe irá conversar com um familiar para fornecer informações sobre o seu procedimento. Após a cirurgia cardíaca, você seguirá para a UTI, onde permanecerá pelo tempo necessário para a sua recuperação. Na maioria das vezes, você estará dormindo, sob efeito da anestesia geral. Seu despertar começará após algum tempo da chegada na UTI de acordo com o tipo de cirurgia e suas condições clínicas. Durante a sua permanência na UTI, é fundamental que você colabore ao máximo com tudo o que lhe for solicitado pela equipe multiprofissional. Ao despertar, você estará com um equipamento em sua boca, um tubo, que estará auxiliando sua respiração. Ele não causará dor, mas impossibilitará você de falar por um período. Procure manter-se tranquilo, pois assim que estiver bem acordado e respirando sozinho, o tubo será retirado. Você notará também que os seus braços podem estar com movimentos limitados, para evitar que você desconecte algum aparelho enquanto ainda não estiver bem desperto. Você será continuamente medicado para dor e, por esse motivo, a sensação de dor no pós-operatório não é significativa. Porém, se sentir algum desconforto, comunique à equipe, para que possa ser administrada medicação suplementar. Após algumas horas da retirada do tubo respiratório, você poderá ingerir alimentos em forma líquida de acordo com a sua condição clínica. No pós-operatório imediato, você permanecerá com alguns drenos no seu tórax, utilizados para drenar fluidos e sangue que se acumulam na cavidade torácica após a cirurgia. A presença destes tubos pode trazer algum desconforto. Porém, após sua retirada, este desconforto desaparece totalmente. Você irá observar também a presença de dois fios saindo do seu tórax (eletrodos de um marcapasso provisório), que serão retirados no quarto após a cirurgia. Uma sonda na sua uretra servirá para controlar diurese (quantidade de urina). Enquanto você estiver com a sonda, poderá sentir uma sensação de desejo de urinar. Esta sensação é normal, não se preocupe, pois toda urina estará saindo pela sonda. Você receberá a visita de um fisioterapeuta algumas vezes ao dia, já no pós-operatório na UTI. Nestas sessões, você será incentivado a tossir. Não tenha receio, pois a tosse não interfere na cicatrização da ferida operatória. Ao acordar na UTI, você também poderá observar a presença das feridas operatórias que estão situadas nos seguintes locais:

  • No tórax, chamada de incisão mediana, por onde a cirurgia é realizada;
  • Nas pernas, nos casos de cirurgia de coronária com retirada de veia safena para a realização das pontes;
  • Na virilha, quando há necessidade de uma pequena incisão.
    As incisões serão explicadas pelo seu cirurgião na consulta pré-operatória.

Enquanto você estiver na UTI, receberá visitas de seus familiares nos horários informados no momento da internação. É importante salientar que, caso a equipe da UTI esteja realizando algum atendimento de emergência a um paciente, o horário de visitas poderá ser adiado ou cancelado. A alta da UTI é dada após o período necessário à sua recuperação e pode variar de acordo com o seu quadro clínico. Ao receber alta da UTI, você e seus familiares serão informados e somente irá para o quarto com a presença de um acompanhante.

Graças à avaliação pré-anestésica e às modernas técnicas de anestesia geral, é possível controlar com maior precisão todo o ato anestésico, gerando maior conforto e segurança ao paciente. Conheça o seu médico anestesista e confie nele, pois ele é o especialista que irá cuidar da sua vida durante a realização do procedimento a que você se submeterá.

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